Soncent

Soncent

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Afinal sou boa pessoa

 
Nunca me preocupei muito em ser boa pessoa. Andei na escola preocupada em ser a mais alta, a melhor aluna; nunca me ocorreu ser a melhor nalgum desporto nem em ser a que se vestia melhor, não sentia vergonha dos meus garatujos mas tinha orgulho do meu português.
 
É claro que nunca fiz maldades a não ser expulsar um gato do prédio, até a minha irmã me chamar a atenção. Não me aproveitei da minha altura para bater em ninguém, não "busquei insulta" a ninguém, que me lembre. Era extrovertida mas não me metia a gozar com os colegas. E em casa, ainda apanhava da minha mãe, da minha irmã e da minha vizinha. Sem ter em quem me vingar.
 
Foi só em Portugal, quando estava na universidade que, estando afónica, descobri que era boa pessoa sim, senhora. Porque sou mandadora de bocas, isso sou sim, tenho uma boca lesta em fazer comentários sobre a forma de falar, a roupa ou a postura de alguém, bocas que partilho apenas com gente de confiança, que não servem para mais nada a não ser para aquele entretenimento passageiro e inconsequente que também nos dá a leitura de revistas cor de rosa.
 
 Mas se me dói falar, se só consigo sussurrar o básico, então calo-me e penso para comigo mesmo que a minha maldade é um fogo de palha que não justifica o esforço. E, calada, descubro-me um amor de pessoa.
Onde é que vou buscar a minha medalhinha de santa para usar junto ao peito?

Sem comentários: